sábado, 29 de novembro de 2014

O pequeno almoço com sabor a tudo...

Ela acorda com uma tremenda dor de cabeça, cheira-lhe a insónias, o peito está vazio, ela tem os melhores lençóis de inverno, quentinhos, quentinhos, mas mesmo assim está frio, muito frio, falta a presença de um calor humano, aquele que envolve num abraço, faz arrepiar a espinha e ao mesmo tempo sentir uma onda de calor que não deixa raciocinar, aquela onda de calor que nem todos conseguem fazer, nem aquecedor, nem lareira, nem cobertor...

A mulher tinha idealizado o melhor pequeno almoço de sempre para aquela manhã, e assim o fez, preparou torradas de manteiga e compota de pêssego, chá de maça e canela e cortou a manga que em tempos alguém tinha trazido com todo o amor e carinho para ela. Era um dos seus frutos preferidos.

Com todo este apetitoso pequeno almoço, ela liga o seu rádio que tinha um CD de música instrumental piano criando assim um ambiente tranquilizador, não lhe faltava nada, mas ao mesmo tempo faltava-lhe tudo.

Assim que se senta à mesa, solitária por dentro e por fora, começa por barrar a manteiga e a compota nas torradas, parecem movimentos computorizados, as torradas sabem-lhe bem, o chá ajuda a empurrar aquilo que tem mais dificuldade a passar e aquece o vazio que sente, os pensamentos começam a surgir tão depressa quanto o chá corre para o estômago e começa a querer contorcer-se, tenta desviar os pensamentos negativos por momentos e pensar somente naquele pequeno almoço que andava a idealizar fazer à já algum tempo. Quando começa a comer a manga as coisas pioram, a manga não tem sabor a fruto, não tem o sabor da verdadeira manga. Ela traz amor e carinho e depois é substituída por vazio, tristeza, incerteza, desconfiança, ansiedade e falta de esperança no futuro. Ela luta contra tudo isto e fecha os olhos e consegue pela primeira vez abstrair-se de tudo e saborear apenas um dos seus frutos preferidos.

O que poderá ter acontecido, para que uma mulher idealize tanto uma coisa e depois por meros pensamentos do acaso, sai tudo ao contrário?

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