quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O meu testemunho na Festa do Idoso 2016


Com os avós tudo é permitido, pelo menos falo da minha experiência. Eu tinha via verde para tudo. Fui praticamente criada pelos meus avós, digo isto, porque passei a infância e parte da adolescência com eles.

Já sabemos que com os avós é permitido fazer tudo aquilo que não fazemos com os pais, eu comia o que quisesse e quando eu quisesse, subia e sentava-me nas árvores para colher e comer os melhores frutos, meu avô ficava chateado, queria que comesse a fruta que caía ao chão, acho que ele nunca percebeu que o que eu queria era ter um pretexto para subir a árvore.

Naquela casa, eu jogava Às escondidas, à apanhada, andava de bicicleta e de patins. Naquela casa tudo era permitido, não tínhamos medo de partir nada, porque a avó não se afligia com essas coisas. Ora dormia com a avó, ora dormia no sofá, via desenhos animados, parecia que havia tempo para tudo. Aquilo era realmente a minha praia.

Eu hoje, nem consigo imaginar como o coração da minha avó ficava pequenino quando ouvia o rolar dos patins pela rampa de sua casa, ou quando me falhou os travões da bicicleta.

Ela deixava-nos ir para todo lado, para o mato construir cabanas, para o jardim da vizinha apanhar borboletas e joaninhas. Na altura éramos 4 netos, inseparáveis, mas pelas suas mãos passaram seis.

Não foi tudo bom, desloquei um braço, fui arranhada por um gato, perdi a conta às vezes que caí de patins, umas vezes de joelhos, outras com as mãos ou com o rabo, fui atropelada e um dos meus primos levou 40 pontos de uma só vez, enfim, uma série de acontecimentos marcantes, positivos e negativos e de provocar ataque cardíaco a qualquer avô.

Mas, tinha uma coisa boa, que só descobri com o passar dos anos, eu vivia, eu brincava, eu convivia, era livre, consciente e feliz. Sentia-me amada por eles. Não há colo como o de os avós. 

Os anos foram passando, e os netos foram seguindo as suas vidas, mas senti sempre os meus avó como espectadores e conselheiros.

Hoje, como é a lei natural da vida, eles estão mais frágeis e os papéis estão a inverter-se, está na altura de fazermos algo por eles.

E o que mais me enche o coração, é que apesar de todas as preocupações e aflições que lhes demos. Hoje, eu sento-me no colo da minha avó (sim, porque eu ainda me sento naquele colo) e ela com os olhos brilhantes e cheios de lágrimas me diz: "Eu era tão feliz, quando vos criei..." E eu pergunto: "Como é possível?" Quando eu for grande gostava de ser assim.

Acredito que para muitos dos netos que aqui estão é isto que experienciam. E certamente para muitos dos avós também é isto que sentem.

Resta-me agradecer a Deus e aos meus pais, a possibilidade que me deram de conviver desta maneira com os meus avós, uma parte daquilo que sou hoje é proveniente deles.

Festa do Idoso, 23 de Outubro de 2016

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